Autoria: Maria Eduarda Mayumi Iryu de Melo Pimenta • Bolsista de Jornalismo Científico do LISA
Arte/Divulgação: Carlos Eduardo Conceição • Bolsista de Divulgação Científico do LISA
Revisões: Rose Satiko • Coordenadora do LISA | Vanessa Munhoz • Comunicação do LISA
Publicação: 10/10/2024
Nos dias 17 e 18 de setembro de 2024, a Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) sediou o simpósio “Corpo-arquivo: práticas, memórias e imaginações audiovisuais”, organizado por Delfina Cabrera, Cecilia Gil Mariño, Carola Saavedra (UzK), Peter W. Schulze (PBI-UzK/Mecila) e Mateus Araújo (ECA-USP), com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA-USP e do Maria Sibylla Merian Centre Conviviality-Inequality in Latin America (Mecila), centro que se dedica a investigar as interações entre convivência e desigualdade na América Latina. O evento reuniu arquivistas, curadoras/es e pesquisadoras/es para debater o papel dos arquivos na preservação de histórias e memórias marginalizadas. Em um cenário de crescentes discussões sobre memória, preservação e representatividade, o evento destacou a relevância dos chamados "arquivos audiovisuais menores", um conceito proposto pela pesquisadora Juana Suárez.
O simpósio abordou a necessidade de questionar as narrativas hegemônicas e promover um diálogo transregional sobre práticas arquivísticas na América Latina. A proposta central do evento foi investigar como práticas colaborativas e o pensamento decolonial podem contribuir para a reformulação das memórias audiovisuais. Em foco, estavam as questões de circulação, acesso e políticas de preservação de patrimônios, enfatizando as violências e ausências que marcam a construção de arquivos, bem como a possibilidade de reimaginar esses espaços por meio de novas perspectivas.
O Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA-USP) foi convidado para compor uma mesa ao lado do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), da Unicamp. Rose Satiko Gitirana Hikiji, coordenadora do LISA, e Leonardo Fuzer, responsável pelos acervos do Laboratório, participaram das discussões juntamente com Mário Medeiros, coordenador do AEL. O encontro entre as duas instituições proporcionou um rico intercâmbio sobre práticas arquivísticas e a preservação de memórias em um contexto latino-americano, ampliando a compreensão sobre a importância de projetos colaborativos.
Fundado em 1991 por Sylvia Caiuby Novaes, o LISA se consolidou como referência na produção e preservação de materiais audiovisuais. O laboratório conta com uma estrutura técnica que inclui reservas de acervos, auditório e ilhas de edição, e abriga coleções de imagens, vídeos e arquivos sonoros relacionados a pesquisas com populações indígenas e outras comunidades. Ao longo de sua trajetória, o LISA também se destacou pelo compromisso em tornar seus acervos acessíveis ao público e às próprias populações retratadas, reforçando sua missão de colaborar com as comunidades envolvidas.
A questão da acessibilidade dos acervos foi um dos pontos mais discutidos durante o simpósio. Desde 2004, o LISA tem se empenhado na digitalização de seu vasto acervo audiovisual, um processo contínuo que visa preservar materiais históricos como fotografias em papel e fitas de rolo. Atualmente, o acervo do laboratório conta com cerca de 2 mil filmes (principalmente documentários, em média e longa-metragem), 24.500 imagens (incluindo fotos, adesivos e placas de vidro) e 700 horas de registros sonoros (fitas cassetes, discos, CDS e arquivos digitais). A maioria do acervo fotográfico e fonográfico é composta por registros com povos indígenas.
Além de sua função preservacionista, o LISA se consolida como um espaço de produção audiovisual de filmes etnográficos, realizados por pesquisadores ligados ao Departamento de Antropologia, desde a iniciação científica até o pós-doutorado. a. Ao longo de sua trajetória, a produção audiovisual do LISA tem explorado uma ampla gama de questões, como rituais, migrações e práticas culturais, em contextos diversos.
No seminário, foi discutido o projeto do LISA de reforçar abordagens colaborativas na produção audiovisual, por meio do apoio a projetos desenvolvidos em parceria com as populações pesquisadas. Essas iniciativas, ao promover a participação ativa das comunidades, evidenciam o compromisso do laboratório em devolver os materiais produzidos para aqueles que são o foco de suas pesquisas. Também a digitalização do acervo tem como objetivo a ampliação do acesso a ele por parte das populações retratadas. Assim, podem acessar, compartilhar e ressignificar suas histórias.
O simpósio “Corpo-arquivo” trouxe uma reflexão profunda sobre o papel transformador dos arquivos menores, não apenas como repositórios de memória, mas como ferramentas ativas na resistência cultural e na democratização do acesso ao conhecimento. Ao reunir instituições como o LISA e o AEL, o evento promoveu um espaço de diálogo essencial para repensar as formas de preservação e circulação das memórias audiovisuais, especialmente no contexto latino-americano.
A participação do LISA no simpósio reforçou seu papel pioneiro e seu compromisso contínuo com a produção e preservação de arquivos audiovisuais, ampliando o debate sobre as vozes e narrativas de populações indígenas e de outras comunidades. O trabalho do laboratório reflete uma abordagem que vai além da conservação tradicional, promovendo a devolução e a participação ativa das comunidades na construção de seus próprios arquivos, em uma prática ética e colaborativa.
Através de iniciativas como a digitalização dos acervos e produções audiovisuais colaborativas, o LISA continua a se posicionar como um espaço inovador na antropologia visual, ajudando a moldar novas formas de imaginar e preservar memórias.
Para saber mais sobre as instituições envolvidas, acesse:
LISA-USP: https://lisa.fflch.usp.br/
AEL: https://ael.ifch.unicamp.br/
MECILA: https://mecila.net/pt/