Trajetórias Cruzadas reúne fotografias de Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat
Pela primeira vez, mostra apresenta trabalhos de três mulheres fotógrafas que se engajam na defesa dos povos indígenas e de comunidades ribeirinhas e sertanejas
O Centro MariAntonia da USP inaugura no dia 19 de outubro, às 16 horas, a exposição Trajetórias Cruzadas com trabalhos de Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat, com aproximadamente 300 fotografias. A curadoria é das antropólogas Sylvia Caiuby Novaes e Fabiana Bruno. A entrada é gratuita.
A mostra reúne, pela primeira vez, fotografias de três mulheres europeias: a suíça Claudia Andujar, a alemã Lux Vidal e a inglesa Maureen Bisilliat. São mulheres cujas trajetórias foram marcadas pela vivência da Segunda Guerra Mundial, por terem morado em muitos países e dominarem várias línguas. No Brasil se cruzam em trajetórias similares, buscando e revelando um Brasil pouco conhecido até então pelos brasileiros.
A curadora Sylvia explica que a fotografia das artistas “é um modo de conhecer os mundos visitados e registrados, mundos muito diferentes daqueles que conheciam antes de virem ao Brasil”. Para ela, “é esse olhar e esse conhecimento que garante à fotografia seu engajamento em defesa dos povos indígenas, de seus territórios, de sua cultura e modos de viver, algo que marca suas vidas até hoje. Suas fotografias são uma clara demonstração de que os povos indígenas viviam em um mundo melhor”.
A exposição traz as características peculiares das artistas. As fotos de Claudia Andujar trazem afeto, espontaneidade, mas também guardam algo da ordem do não-dito, próprio da intimidade partilhada com os povos indígenas Yanomami. Os trabalhos de Lux Vidal, por sua vez, trazem um modo de olhar que se aproxima, acompanha e descreve as pessoas ao longo do tempo, em atividades cotidianas, rituais, mudanças nas pinturas corporais, uso e confecção de adornos. E os retratos de Maureen Bisilliat surgem de uma dramaticidade do personagem graças ao fundo negro e neutro utilizado pela fotógrafa.
Promovida com recursos do Programa de Ação Cultural de São Paulo (ProAc), a mostra é resultado de pesquisas financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
AS FOTÓGRAFAS
Fotos de Claudia Andujar, que integram o acervo da Galeria Vermelho
Claudia Andujar nasceu em Neuchâtel, na Suíça, em 1931. Passou a infância em Orádea, entre a Hungria e a Romênia. Entre 1944 e 1945, seu pai e sua família paterna, de origem judaica, foram enviados aos campos de concentração de Auschwitz e Dachau. Em 1946, morou em Nova York com seu tio Marcel Haas. Casou-se com o espanhol Julio Andujar e adotou seu sobrenome. Entre 1949 e 1952, estudou no Hunter College e começou a pintar, inspirada pelo expressionismo abstrato. Decidiu viajar para o Brasil em 1955, onde começou a se interessar por fotografia. Nos anos 1960, trabalhou como fotógrafa freelancer para revistas brasileiras e norte-americanas, como Claudia, Realidade, Life e Look. Enquanto trabalhava em um número especial da revista Realidade dedicada à Amazônia, entrou em contato com os Yanomami em 1971. Fundou com outras pessoas a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), que luta pelo reconhecimento do território Yanomami. Fez diversas exposições sobre os Yanomami: MASP (1989), Memorial da América Latina (1991), Bienal de Arte de SP (1998), MIS (2000), Pinacoteca (2005), Instituto Moreira Salles (2019) e Fundação Cartier de Paris (2002 e 2020).
Fotos de Lux Vidal, que integram o acervo do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP (LISA)
Lux Vidal nasceu em 1930, em Berlim, na Alemanha. Passou a maior parte de sua infância e juventude na Espanha e na França, onde estudou Letras Clássicas. Em 1951 obteve o título de Bachelor of Arts pelo Sarah Lawrence College, em Nova York (EUA), onde cursou Antropologia, Literatura e Teatro. Chegou em São Paulo em 1955, lecionou na Aliança Francesa e no Liceu Pasteur e, em 1967, voltou a estudar Antropologia na USP, onde realizou seu mestrado e doutorado. Em 1969, ingressou como professora no Departamento de Antropologia da USP e a partir de então desenvolveu pesquisas e ações indigenistas com diversos povos indígenas, especialmente os Mebengokré-Xikrin, do Pará, e os povos indígenas do Oiapoque, Amapá. Formou um grande número de antropólogos e antropólogas, além de contribuir para a fundação de várias organizações indigenistas, como a Comissão Pró-Índio de São Paulo. Atualmente segue produzindo publicações e realizando trabalhos relacionados aos povos indígenas.
Fotos de Maureen Bisilliat, que integram o acervo do Instituto Moreira Salles (IMS)
Maureen Bisilliat nasceu em 1931, em Englefield Green, na Inglaterra. Filha de uma pintora escocesa e de um diplomata argentino, morou em diversos países quando criança por conta da profissão de seu pai. Em 1955, estudou pintura com André Lhote e, em 1957, estudou artes em Nova York, na Arts Students League. Maureen foi morar em São Paulo em 1953 com seu primeiro marido, o fotógrafo espanhol José Antonio Carbonell. Após uma temporada no exterior, em 1959, retornou ao Brasil para ficar. Abandonou, então, a pintura e começou a se dedicar à fotografia. Maureen trabalhou na revista Realidade, da Editora Abril, entre os anos 1960 e 1970. Na mesma época, começou a editar fotolivros, onde traçou equivalências entre suas fotografias e trechos de livros de autores brasileiros. Em 1973, fez a sua primeira viagem ao Xingu com os irmãos Villas-Boas e, no mesmo ano, inaugurou a Galeria O Bode, em São Paulo. Em 1988, foi convidada por Darcy Ribeiro para constituir o Pavilhão da Criatividade, no Memorial da América Latina. Maureen publicou diversos fotolivros, filmes e realizou exposições na Bienal de São Paulo (1985), FIESP (2009), IMS (2020) e MIS (2022).
AS CURADORAS
Sylvia Caiuby Novaes é antropóloga e professora titular sênior no Departamento de Antropologia da USP. Na Universidade, em 1991, fundou o Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA), do qual foi coordenadora até 2024. Foi Diretora do Centro Universitário Maria Antonia; é pesquisadora do Centro de Estudos Ameríndios (CEstA), coordenadora do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI) e editora chefe da revista de antropologia Gesto Imagem e Som (GIS). É autora de inúmeros livros e fotos publicados no Brasil e no exterior, além de vários artigos sobre fotografia numa perspectiva antropológica.
Fabiana Bruno é doutora em Multimeios, pela Unicamp, e pós-doutora em Antropologia Social pela mesma Instituição e pela ECA-USP. Realiza atualmente pós-doutorado no Departamento de Antropologia da USP, com apoio do CNPq e sob supervisão de Sylvia Caiuby Novaes. Na Unicamp, é coordenadora adjunta do LA’GRIMA-IFCH e pesquisadora colaboradora do Departamento de Antropologia do IFCH. Curadora e editora de projetos de fotolivros com a Fotô Editorial-SP, onde também orienta grupos de estudos em fotografia contemporânea. É uma das fundadoras do ACHO–Imagens, em Campinas-SP, acervo que reúne mais de 20 mil fotografias recolhidas do lixo urbano pela ação conjunta com catadores de reciclados.
Serviço: Exposição Trajetórias Cruzadas
Local: Centro MariAntonia – Edifício Joaquim Nabuco
Duração: 19 de outubro de 2024 à 23 de fevereiro de 2025
Endereço: Rua Maria Antônia, nº 258, Vila Buarque, São Paulo (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô)
Visitação: Terça à domingo e feriados, das 10 às 18 horas
Entrada gratuita
Informações: (11) 3123-5202
Informações para a imprensa
Responsável: Sandra Lima
Contatos: (11) 3123-5217 e imprensama@usp.br