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A Oficina fotografar e ver que acontecerá divulga a lista dos alunos selecionados para atividade que acontecerá nos dias 4, 5, 6 e 7 de fevereiro de 2025 no Auditório do LISA:

GIOVANNA AMARAL NUNES 
SUZANA SANTIAGO BERTOLACCINI 
ISABELLA ALMEIDA DE ABREU AQUINO
TREA MACIEL BRAZ
MYLENA GUEDES
ISABELA MAEDA OTSUKI
MARIANA RODRIGUES RIZZI
WILTON CRUZ VALENTE
JULIA RAMPAZZO CAVALCANTI 
SAMUEL DANIEL DE LIMA 
ALICIA RAFAELA ALMEIDA MAGALHÃES 
/*-->*/ LEONARDO RODRIGUES SILVÉRIO

Fotografar e ver – oficina de fotografia.

Objetivo da oficina: Apresentar tecnicamente os princípios para operar manualmente uma câmera fotográfica (abertura do diafragma, velocidade do obturador, ISO); fazer exercícios operando a câmera e exercícios de composição da fotografia; visitar a exposição “Trajetórias cruzadas: Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat” no Centro MariAntonia da USP; realizar discussões sobre as relações entre fotografia e antropologia visual.

Solicitamos às pessoas inscritas que levem câmeras fotográficas, caso possuam.

Público-alvo: Estudantes de graduação e pós-graduação;

Pré-requisito: Não é preciso experiência prévia com fotografia. 

Informações/Contato: lisaonline.fflch@usp.br

Número de vagas: 12 

Ministrantes: Pesquisadores do LISA e do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI – USP) vinculados ao Departamento de Antropologia da USP 

  • Laila Kontic é mestra em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI – USP). Email: lzkontic@gmail.com
  • Kelly Koide é doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), com estágio na Université Lyon I. É pós-doutoranda no Departamento de Antropologia da USP, onde realiza pesquisas sobre a trajetória e a obra de Claudia Andujar e Maureen Bisilliat. Pesquisadora do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI – USP). Email: kelly.koide@yahoo.com.br
  • Kelwin Marques é mestrando em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI – USP). Email: kelwin.santos@usp.br

Modalidade: Presencial

Local da oficina: Auditório do LISA-USP localizado na Rua do Anfiteatro, 181, favo 10, Cidade Universitária, São Paulo.

Valor: Gratuito

Período de inscrição: 15/01 a 29/01

Critério de seleção: Ordem de inscrição

 

Divulgação dos selecionados: 31/01/2025 (sexta-feira), no site https://lisa.fflch.usp.br/

Período de realização da oficina: 4, 5, 6 e 7 de fevereiro de 2025. 

Horário: 9h30 - 12h30 

Carga horária total: 12h 

Critério de aprovação: Participação em 75% das aulas. 

Certificado: Será entregue aos aprovados no último dia de aula.

 

O caminho do Alabê – Ritmos dos orixás e a música brasileira”, ministrado por Vitor da Trindade e Elis Trindade

Aconteceu este semestre a segunda edição do curso de cultura e extensão universitária intitulado O caminho do Alabê – Ritmos dos orixás e a música brasileira, promovido e realizado no Laboratório de Som e Imagem em Antropologia (LISA) e no Teatro Popular Solano Trindade (TPST), com apoio do Departamento de Antropologia da USP. O curso foi coordenado por Rose Satiko Gitirana Hikiji, professora do Departamento de Antropologia da USP (DA-USP) e coordenadora do LISA, e  ministrado por Vitor Israel Trindade de Souza, músico, mestre em etnomusicologia pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, presidente e diretor artístico do Teatro Popular Solano Trindade, e por Elis Sibere dos Santos Monte Trindade de Souza, professora de dança afro-brasileira, coreógrafa e coordenadora cultural do Teatro Popular Solano Trindade.

As atividades aconteceram entre os dias 12/09 e 14/11 de forma presencial e se basearam no método Raquel Trindade, que nasce com os ancestrais da Família Trindade e une teoria e prática, e a proposta de movimento, sonoridade e bem-estar como epistemologia. O curso abordou os ritmos dos orixás, danças e manifestações, assim como a influência desses elementos na musicalidade brasileira, com alusão a instrumentistas e sacerdotes dos orixás. 

Ogans e a Musicalidade  

Vítor e Elis abordaram as funções do ogan, da instrumentação,  da sonoridade e danças nos rituais, festas e cerimônias. As comunicações pautaram-se, especialmente, no papel da música e dos toques no culto aos orixás, a sua importância, particularidades e complexidades ao redor das diferentes sonorizações, formas de tocar e ocasiões. Entre os papéis destacados, está o do ogan alabê, que dá nome ao curso e também ao livro Oganilu, O caminho do Alabê e O Ogan Alabê, Sacerdote e Músico, de autoria de Vitor da Trindade. O Ogan alabê é o responsável pela manutenção e conservação dos instrumentos sagrados, assim como por tocar em momentos de rituais e festas.

Como Ogan Alabê Omoloyê do Ilê Axé Jagun, com o auxílio de Elis, Vítor demonstrou alguns toques dos orixás, sua sonoridade, particularidades e formas representativas de danças. Além de destacar a singularidade do atabaque nas cerimônias, pois é ele quem dá o curso e ritmo ao culto, deve ser tocado apenas por pessoas especializadas e ser cuidado e preparado para cada tipo de evento.

A iniciativa corrobora para a difusão de saberes ancestrais e de matriz africana, institucionalizados pela Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da "História e Cultura Afro-Brasileira" no ensino fundamental e médio.
Para mais informações sobre as atividades, acesse o site: https://sce.fflch.usp.br/node/5676. Para conhecer mais sobre o Teatro Popular Solano Trindade, visite as redes sociais do teatro pelo link: TPST.

 

Tese premiada acompanha o cinema dos povos indígenas Manoki e Myky

Antropólogo que oferece oficinas audiovisuais em aldeias no Mato Grosso analisou filmes sobre temas como jogos e rituais tradicionais e as relações entre humanos e não humanos

Por meio da linguagem audiovisual, os povos indígenas Manoki e Myky encontraram uma forma de compartilhar suas práticas e histórias. O engajamento dos jovens com o audiovisual levou à reativação de tradições desses povos, que vivem no Mato Grosso, à criação de um coletivo de cinema e à produção de alguns filmes premiados. Foi a partir do contato e relação do pesquisador André Lopes com esse processo que nasceu a tese de doutorado Ijã Mytyli: Os Manoki e os Mỹky em seus novos caminhos-histórias audiovisuais, vencedora do Prêmio Tese Destaque USP 2024 na categoria Inovação.

Formado em Ciências Sociais, André Lopes trabalha desde 2008 com os Manoki no estado do Mato Grosso e, desde 2009, auxilia no processo de filmagem e produção de filmes, oferecendo oficinas audiovisuais. O primeiro documentário, O Batizado dos Meninos Manoki, foi produzido em 2009. O filme apresenta o ritual de iniciação dos jovens à vida adulta, que não era feito há 14 anos.

“A possibilidade de gravar essa cerimônia foi um dos fatores que contribuíram para a reativação dela. Esse foi o primeiro trabalho e depois a gente continuou fazendo vídeos. O mestrado e doutorado foram formas de continuar a relação de colaboração e parceria com essas pessoas nas aldeias”, conta Lopes.

De acordo com o antropólogo, o seu doutorado é uma ampliação de seu mestrado, que também consistiu no trabalho de pesquisa e produção audiovisual, porém restrito aos indígenas Manoki. Após uma visita à aldeia Myky, ele decidiu expandir sua pesquisa e oferecer as oficinas para essa comunidade. Sob orientação do professor Renato Sztutman, o pesquisador defendeu sua tese de doutorado em Antropologia Social na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em 2023. 

Protagonismo indígena

O pesquisador explica a importância do uso de ferramentas pelos povos indígenas para que eles criem o próprio cinema. “A ideia é que eles se apropriem dessas ferramentas audiovisuais para que eles continuem sendo protagonistas das suas próprias histórias. Para que eles mesmos contem as histórias de seus povos. Até então, a experiência que eles tinham era de pessoas de fora que iam e falavam sobre eles ou os gravavam, levavam embora e não retornavam à comunidade. Eles não tinham muito controle de como esse material era exibido e distribuído”, conta Lopes.

Durante a pesquisa, os jovens dessas comunidades criaram, junto com o antropólogo, o Coletivo Ijã Mytyli de Cinema Manoki e Mỹky para que pudessem dar continuidade às produções. “A criação de um coletivo de cinema indígena foi uma proposta que a gente criou juntos. A gente reuniu os jovens desses dois povos para dar uma sinergia maior a essas produções e conseguimos, ao longo dos anos, financiamento para que essas comunidades também tivessem equipamento. Então, hoje as três maiores comunidades têm câmeras profissionais, microfone e tripé, eles estão bem equipados para continuar a fazer essas atividades audiovisuais”, explica o pesquisador.

A pesquisa de doutorado de Lopes se concentrou em estudar os temas que foram retratados nos filmes feitos pelos indígenas. O antropólogo definiu as abordagens em parceria com os moradores das aldeias. “Os indígenas escolhiam o que eles iam filmar. À medida que eles foram escolhendo os assuntos da pesquisa, a gente foi aprofundando os temas antropologicamente. Então, a escolha dos temas da tese foi feita em parceria com esses jovens”, diz.

Narrativas audiovisuais

Com apoio do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (Lisa) da USP, Lopes produziu três longas-metragens e cinco curtas-metragens dirigidos por indígenas, que fazem parte de sua pesquisa. O objetivo foi compreender os usos das imagens audiovisuais e os significados das apropriações dessa linguagem pelos povos indígenas. Para isso, ele usa o conceito de cosmopolítica, que se refere aos vínculos entre seres humanos e não humanos em uma concepção de mundo que não divide cultura e natureza como universos separados.

“A circulação de imagens e sons entre povos indígenas opera mediações interétnicas, entre indígenas e não indígenas, ou mediações intergeracionais, entre diferentes grupos dentro de uma mesma sociedade. Mas, muitas vezes, os filmes indígenas trazem não só os humanos que habitam esse plano, mas seres que habitam outros mundos ontologicamente diferentes e com os quais eles devem ter uma diplomacia cosmopolítica”, pontua.

Segundo o pesquisador, o uso do vídeo pelos povos indígenas funciona como uma mediação cosmopolítica amplificada. “O cinema indígena opera uma mediação cosmopolítica amplificada porque eles também querem passar essas mensagens que vêm desses mundos espirituais múltiplos. Eles querem passar essa mensagem para os não indígenas, que desconhecem a existência desses seres”, complementa Lopes.

Entre os filmes que entraram na pesquisa, dois retratam os jogos de bola de cabeça dos Manoki e Myky, um tipo de futebol jogado exclusivamente por homens, em que apenas a cabeça pode encostar na bola. O filme Ãjãí: o jogo de cabeça dos Myky e Manoki apresenta essa prática e os preparativos para o jogo e foi ganhador do prêmio de melhor documentário longa-metragem no Cine Kurumin.

Nesse jogo, os participantes devem atingir o campo do time adversário sem que eles consigam rebater a jogada. Para obter o ponto, os times devem fazer três jogadas sucessivas vitoriosas. As competições podem durar até três dias, já que as disputas só terminam quando todas as apostas, prêmios disputados, são ganhas. Os prêmios são variados, como bens, sementes e elementos de cultivo. Apesar de não participarem em campo, as mulheres têm um papel central nos jogos porque preparam as apostas e a alimentação para os dias de festa.  

As outras produções que compõem a pesquisa são Os espíritos só entendem o nosso idioma, Tecendo nossos caminhos, Piny Pyta: a força de nossas medicinas, Pinjawuli: o veneno me alcançou e Jãkany Ãkakjey: nossos alimentos. As duas primeiras mostram a resistência do povo Manoki e a esperança de voltarem a falar a sua língua indígena, pois atualmente apenas seis anciões da comunidade ainda falam o idioma, que é uma forma de se comunicarem com os espíritos. O terceiro filme apresenta os meios de resistência dos indígenas durante a pandemia. Já Pinjawuli é baseado em um sonho do próprio diretor, Bih Kezo, e faz uma crítica à contaminação das lavouras pelo uso de agrotóxicos. Jãkany Ãkakjey discute a relação entre vivos e mortos e os preparativos na roça comunitária para a realização do ritual sagrado Yetá.


Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP em 21/11/2024, às 18:48. Leia o original aqui.

quadro com fotos da noticia

É com grande satisfação que comunicamos que a tese de doutorado “Ijã Mytyli: Os Manoki e os Mỹky em seus novos caminhos-histórias audiovisuais” do pesquisador André Luís Lopes Neves, sob orientação do professor Renato Sztutman, recebeu o Prêmio Tese Destaque USP na área de conhecimento de Inovação.

André defendeu em 2023 a tese de doutorado em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP) e, desde 2008, pesquisa e trabalha com os povos Manoki e Mỹky, no Estado do Mato Grosso. Além disso, desde 2011, vem realizando oficinas audiovisuais com outras cinco populações indígenas do Brasil, com atividades que envolvem produção, filmagem, edição e direção de vídeos de forma compartilhada. 

Durante a pesquisa de doutorado, André produziu dois longas-metragens e cinco curtas-metragens co-dirigidos por indígenas, que integram a sua tese. Além de método, o uso de recursos audiovisuais foi uma forma de mediação do estudo e apresentação de seus resultados. O pesquisador optou por utilizar as ferramentas audiovisuais para que a pesquisa fosse melhor compartilhada com os grupos, bem como para oferecer uma forma de contrapartida para as comunidades. 

A proposta metodológica do estudo foi deslocar o princípio “evans-pritchardiano”, segundo o qual o antropólogo deve estudar aquilo que encontra em campo, para escolher estudar e se aprofundar nos temas que os realizadores indígenas escolhem filmar em campo, sobretudo os elementos que são editados e incluídos nos filmes. Diversos assuntos foram temas da pesquisa antropológica, tais como as festas de ãjãí, que são os jogos de bola de cabeça (tema inédito na literatura etnográfica), e os rituais de iniciação dos rapazes à casa dos espíritos Jeta.

Com o aumento do interesse dos jovens pela produção audiovisual, durante a pesquisa foi criado o Coletivo Ijã Mytyli de Cinema Manoki e Mỹky, como forma de continuidade e dinamização e protagonismo indígena das atividades que já vinham acontecendo, sobretudo a formação de novos cineastas dentro das comunidades, realizadores que narram suas próprias histórias com seus equipamentos de captação e edição. 

O filme 

Os usos, significados e agências atribuídos pelos Manoki e Mỹky aos recursos audiovisuais têm mostrado que eles operam como mediadores cosmopolíticos amplificados de relações interespecíficas. Os cinemas (no plural) feitos pelos povos indígenas têm oferecido uma forma viável de conhecer de perto seus mundos e de aprender a cuidar melhor das nossas relações entre humanos e não humanos que co-habitam o nosso planeta.

A premiação contemplou teses defendidas entre 01 de janeiro e 31 de dezembro de 2023, que dentro de suas áreas de atuação, dialogam com as áreas distribuídas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Alguns dos filmes produzidos estão disponíveis no site do LISA

Exposição conecta as trajetórias de Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat

Hoje nonagenárias, elas se radicaram no Brasil na década de 1950 e produziram vasto acervo fotográfico sobre a temática indígena

Em 2015, a antropóloga Sylvia Caiuby Novaes saía do cinema quando uma cena lhe chamou a atenção. Ela viu as fotógrafas Claudia Andujar e Maureen Bisilliat e a antropóloga Lux Vidal caminhando juntas pela rua Augusta, em São Paulo, com os braços entrelaçados. “Essa imagem me inspirou a investigar quais eram as afinidades entre aquelas três mulheres”, lembra Caiuby Novaes, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP).

A ideia originou o projeto de pesquisa “Fotografias e trajetórias: Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat”, coordenado por Caiuby Novaes, com apoio da FAPESP, entre 2019 e 2022, que se desdobrou em um site e mais recentemente na exposição Trajetórias cruzadas, em cartaz até fevereiro de 2025 no Centro MariAntonia da USP. “Elas têm vários pontos em comum que vão além do fato de hoje serem nonagenárias”, conta Caiuby Novaes, que assina a curadoria da mostra com a antropóloga Fabiana Bruno, coordenadora adjunta do Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem (La’grima) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora colaboradora do Departamento de Antropologia da USP.

Segundo as curadoras, as interseções começam na infância: as três nasceram na Europa, na década de 1930, época de ascensão de regimes totalitários como o nazismo. A suíça Andujar, por exemplo, cresceu entre a Hungria e a Romênia (ver Pesquisa FAPESP nº 276) e, durante a Segunda Guerra Mundial, seu pai e a família paterna, de origem judaica, foram enviados aos campos de concentração de Auschwitz, na Polônia, e Dachau, na Alemanha. Já Vidal nasceu na Alemanha e passou a maior parte da infância e da juventude na Espanha e na França. “Sua família mudou-se várias vezes por causa da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Civil espanhola”, diz Bruno. Por sua vez, a britânica Bisilliat morou em diversos países, como Dinamarca, Colômbia e Argentina, quando criança por conta da profissão do pai, que era diplomata.

A passagem por Nova York antes de se radicarem no Brasil é outro ponto em comum na trajetória das três mulheres, que moraram e estudaram na cidade norte-americana a partir da década de 1940. “Claudia frequentou o Hunter College, quando começou a pintar telas inspirada pelo expressionismo abstrato”, conta Bruno. “Na mesma ocasião, Lux tornou-se bacharel em artes pelo Sarah Lawrence College, onde cursou antropologia, literatura e teatro. E Maureen, que começa a pintar em 1952, na Argentina, estudou cinco anos mais tarde na Arts Students League, que também fica em Nova York.”

Bisilliat, que já havia passado pelo Brasil no início da década de 1950, se muda em definitivo para o país no final de 1957. “Claudia chegou em 1955. Quando vêm morar aqui, as duas abandonam a pintura e começam a se dedicar à fotografia”, relata Caiuby Novaes. Nos anos 1960, ambas vão trabalhar como fotojornalistas para revistas como Realidade, da editora Abril. É dessa época o ensaio Caranguejeiras (1968), que Bisilliat fez para Realidade e registra um grupo de mulheres catadoras de caranguejos na Paraíba – parte das fotos pode ser vista na exposição. “Desde a década de 1950, elas viajaram muito pelo Brasil e pela América do Sul, inclusive sozinhas, o que não era tão comum na época. Basta lembrar que foi somente com o Estatuto da Mulher Casada, de 1962, que as mulheres passaram a ter liberdade de viajar desacompanhadas no Brasil”, prossegue a antropóloga.

Além do trabalho em fotojornalismo, as curadoras destacam mais uma contribuição da dupla. “Claudia e Maureen tiveram papel importante na inserção da fotografia nos espaços expositivos brasileiros, como museus e exposições, a exemplo das bienais, sobretudo na década de 1970”, informa Caiuby Novaes. “Dentre outras coisas, elas passaram a fazer parte da Comissão do Setor de Fotografia do MAC [Museu de Arte Contemporânea da USP], em 1970.”

Tanto Andujar quanto Bisilliat foram contempladas com bolsas FAPESP para realizar projetos de pesquisa. Devido a esse apoio concedido entre 1976 e 1978, a primeira prosseguiu o registro fotográfico dos Yanomami, que iniciara em 1970, durante um trabalho para a revista Realidade, e também deu continuidade à coleta de desenhos realizados por eles. Entusiasta da literatura e da cultura popular do Brasil, Bisilliat recebeu os auxílios “Existência do mágico na realidade brasileira: Mario de Andrade. A presença mágica na realidade brasileira: Roger Bastide”, em 1981, e “Indumentária popular brasileira: Devolução, inspirado livremente nos escritos de Mario de Andrade”, em 1984.

Dentre as três, Vidal (ver Pesquisa FAPESP nº 251), que é professora emérita da USP, possui a trajetória mais vinculada ao mundo acadêmico. Após chegar a São Paulo em 1955, ela lecionou na Aliança Francesa e no Liceu Pasteur, e, em 1967, voltou a estudar antropologia na USP. Dois anos depois, tornou-se professora daquela instituição de ensino e a partir de então desenvolveu pesquisas com diversos povos indígenas, especialmente os Mebengokré-Xikrin, do Pará. “Ao longo dessas décadas, Lux fez cerca de 5 mil fotos, que estão guardadas no Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP. Parte do material exposto foi publicada em seus livros, mas até então nunca tinha sido visto em grande formato”, afirma Bruno.

Dividida em três salas, a mostra reúne cerca de 300 fotografias, desenhos Xikrin e Yanomami, além do vídeo Aqui é o mundo, dirigido por Maíra Bühler, que registra um encontro das três fotógrafas no final do ano passado. Cinquenta por cento das imagens expostas são sobre a temática indígena e refletem um forte vínculo com essa questão. Bisilliat, que foi pela primeira vez ao Parque Nacional do Xingu no início da década de 1970, lançou dois livros sobre as viagens: Xingu (Editora Práxis, 1978) e Xingu/Território tribal (Livraria Cultura Editora, 1979), este em parceria com os indigenistas Claudio Villas-Boas (1916-1998) e Orlando Villas-Boas (1914-2002). Também dirigiu o documentário Xingu/terra (1981), em parceria com Lúcio Kodato.

No entanto, o envolvimento com a questão indígena não se restringe ao registro de imagens. Andujar ajudou a fundar no final da década de 1970 a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), que lutou pelo reconhecimento do território desse povo, só homologado em 1992. Já Vidal contribuiu para a criação de várias organizações indigenistas, como a Comissão Pró-índio de São Paulo, em 1978.

Parte das imagens de Vidal foi restaurada para a exposição a partir de pesquisa de iniciação científica financiada pela FAPESP da fotógrafa Isabella Finholdt, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, sob orientação do fotógrafo João Luiz Musa. O estudo, que integrou o projeto “Fotografias e trajetórias: Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat”, investigou, por exemplo, formas de tratar imagens analógicas produzidas entre as décadas de 1960 e 1980.

Ao todo, o acervo fotográfico de Andujar, administrado pela galeria Vermelho, de Bisilliat, hoje depositado no Instituto Moreira Salles, e de Vidal abriga mais de 50 mil imagens. “Apenas em relação à questão indígena, elas registraram vários temas como cotidiano, caça, casas, aldeias, rituais e pintura corporal”, informa Bruno. “Decidir quais dessas imagens entrariam na mostra foi um dos nossos grandes desafios”, conclui.


Projeto Fotografias e trajetórias: Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat (nº 18/21140-9); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisadora responsável Sylvia Caiuby Novaes; Investimento R$ 122.099,06.

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.


 

Dirigido por Aurélio Prates e Kelwin Marques, o curta é o primeiro exercício de montagem a partir de imagens realizadas em São Paulo e Recife. Nos cortejos reais das Nações de Maracatu, em meados do século XX, a figura da Baiana passa a ser ocupada por travestis, frangos, e outros corpos para os quais a feminilidade não estava pressuposta. O filme busca apresentar a relação das Baianas Ricas do maracatu com suas ancestralidades, que pode se dar tanto a partir da memória das baianas mais velhas, quanto a partir do contato com femininos mais que humanos como as Yabás, as Mestras de Jurema, Pombagiras, etc.

Kelwin é mestrando em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP), supervisionado pela professora Sylvia Caiuby Novaes, e pesquisador do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI). Possui experiência na área de fotografia, antropologia visual, antropologia das populações afro-brasileiras e etnomusicologia.

O evento de premiação acontece entre os dias 11 e 14 de novembro de 2024 como parte das Jornadas de Antropologia John Monteiro da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Na edição de 2024, a revista Journal of Audiovisual Ethnomusicology (JAVEM) apresenta uma curadoria de cinco filmes que exploram as dimensões multissensoriais da interação entre música, cultura e multimídia, além de se destacarem pela busca de metodologias interativas, da exploração de experiências sensoriais e dos complexos mundos sócio-políticos nos quais a música está presente. Entre as obras selecionadas, a nova edição da JAVEM traz duas produções realizadas por pesquisadores do grupo de Pesquisas em Antropologia Musical (PAM) da Universidade de São Paulo (USP)


Open Gasy apresenta os desafios que um músico Malgaxe enfrenta no cenário da World Music francesa, as complexidades do trabalho, a necessidade de adaptação e as complexidades da autenticidade musical. Realizado por Yuri Prado, o filme está disponível no site do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP (LISA).  Yuri Prado é pós-doutorando em Antropologia Social na USP, supervisionado pela professora Rose Satiko Hikiji, tendo realizado estágio de pesquisa na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris. Formado em Música (Composição) pelo Departamento de Música da USP, possui Doutorado Direto pela mesma instituição, com estágio de pesquisa em etnomusicologia na Université Paris VIII.


O filme Toré, dirigido por Alice Villela, apresenta uma experiência visceral das práticas  espirituais e comunitárias, trabalhando o papel da identidade cultural indígena e suas estratégias de resistência através da musicalidade e da dança e do estreitamento de laços comunitários. Alice Villela realizou seu  pós-doutorado em Antropologia Social na USP, também supervisionada pela professora Rose Satiko. Trabalhou mais de dez anos com o povo Asuriní do Xingu, no Pará, desenvolvendo pesquisas de mestrado e doutorado sobre imagem e xamanismo. Atualmente, desenvolve pesquisas ligadas à luta pela terra e à música dos Kariri-Xocó, povo indígena de Alagoas. Pesquisadora e diretora de filmes documentários junto a povos indígenas, atua como colaboradora do Laboratório Cisco, tendo dirigido diversos documentários tais como Acontecências (2009), Toré (2022) e Na Volta do Mundo (2022).


Sediado no LISA, desde 2011, o PAM se dedica a estudar os diálogos entre antropologia e música no âmbito da linha de pesquisa das “Formas Expressivas e Regimes de Conhecimento” do Departamento de Antropologia da USP. A linha de pesquisa trata das relações envolvidas em distintos regimes de produção de conhecimento e de expressão estética. 

O Programa Cultura na USP, da Rádio USP, entrevistou no dia 24/10/2024 as curadoras da exposição "Trajetórias Cruzadas", que está em cartaz de terça a domingo, inclusive feriados, das 10h às18h, gratuitamente no Centro MariAntonia.

As antropólogas Sylvia Caiuby Novaes e Fabiana Bruno contaram sobre a coleção de 300 imagens de Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat que mostram um Brasil pouco conhecido até por brasileiros. As três fotógrafas nascidas na Europa tiveram trajetórias similares no Brasil depois de experiências pessoais marcadas pela Segunda Guerra Mundial.

Acesse a entrevista completa no link: https://jornal.usp.br/podcast/cultura-na-usp-65-exposicao-no-centro-mariantonia-destaca-tres-fotografas-nascidas-na-europa/

Equipe do Programa Cultura na USP #65

Apresentação | Elcio Silva
Produção | Elcio Silva e Fabio Rubira
Trabalhos Técnicos | Bene Ribeiro
Captação de vídeo | Elcio Silva
Edição de vídeo | Denner Costa

Cultura na USP é uma parceria entre a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária e a Superintendência de Comunicação Social. Vai ao ar toda quinta-feira, às 14h, pela Rádio USP FM 93,7Mhz (São Paulo), Rádio USP FM 107,9Mhz (Ribeirão Preto) e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP(jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.

quadro com fotos do evento

Nos dias 03, 04 e 07 de outubro de 2024, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) receberam a “Jornada Internacional de Estudos - As técnicas do corpo: 90 anos do ensaio de Marcel Mauss”.  

Coordenado e organizado por Guilherme Moura Fagundes, docente do Departamento de Antropologia da USP (DA) e vice-coordenador do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP (LISA), e por Rafael Antunes Almeida, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), o evento demarcou os 90 anos do ensaio "As técnicas do corpo", do antropólogo francês Marcel Mauss, e o lançamento do Coletivo de Antropologia, Ambiente e Biotecnodiversidade (CHAMA), grupo de estudos do Departamento de Antropologia da USP liderado pelo professor Guilherme Moura Fagundes.  

A jornada contou com a participação de três dos maiores especialistas na vertente "tecnológica" da obra de Mauss - isto é, voltada, literalmente, ao estudo da técnica - , a saber: Perig Pitrou, pesquisador do CNRS e diretor do centro de pesquisas Maison Française d'Oxford; Carlos Sautchuk, coordenador do Laboratório de Antropologia da Ciência e da Técnica da Universidade de Brasília (LACT/UnB); e Nathan Schlanger, da École Nationale des Chartes (ENC, Paris).  

As comunicações buscaram comparar a recepção e os efeitos do ensaio de Mauss para a consolidação da antropologia da técnica no Brasil e na França. Esse campo de estudos tem se dedicado a compreender o fenômeno técnico desde uma perspectiva simétrica, superando a dicotomia entre sociedades modernas e tradicionais, bem como abarcando as interações entre humanos e não-humanos nas atividades de feitura da vida. Tudo isso ganha centralidade na nossa atual crise ecológica, quando as ações humanas sobre o planeta são, por vezes, reduzidas às ideias de "destruição da natureza" e "controle dos viventes", obliterando a continuidade paleontológica entre os fenômenos técnicos e vitais.  

O auditório do LISA sediou a primeira mesa da jornada, intitulada Vida e movimento: impactos e perspectivas das técnicas do corpo entre o Brasil e a França, com abertura do professor Guilherme Moura Fagundes, mediação de Rafael Almeida e exposições de Carlos Sautchuk e Perig Pitrou. O objetivo da mesa foi demonstrar como o ensaio de Marcel Mauss condensa diferentes inflexões que seu pensamento realiza, sobretudo acerca da materialidade e da dimensão vital na configuração da vida social, lançando um programa de pesquisas que se atualiza nas críticas contemporâneas à oposição entre natureza e cultura.  

Além da mesa de abertura, a jornada contou com três conferências proferidas pelo professor Nathan Schlanger. A primeira, intitulada “Técnicas do corpo e corpos técnicos – Marcel Mauss sobre a indústria e o artesanato” — proferida em francês, com tradução simultânea —, foi mediada pelo professor Guilherme Moura Fagundes e se baseou em materiais de arquivos de Marcel Mauss para nos fornecer detalhes intelectuais e institucionais acerca do contexto de emergência do pensamento maussiano sobre a técnica. A segunda conferência, realizada em inglês, intitulada “André Leroi-Gourhan from material civilisations to technical behaviour”, foi mediada por Eduardo Neves (MAE/USP) e se concentrou no último livro de Nathan Schlanger sobre o etnólogo e arqueólogo André Leroi-Gourhan (1911-1986), aluno de Marcel Mauss e contemporâneo de Claude Lévi-Strauss no Collège de France. Por fim, a última conferência tratou do tema “Aprender no paleolítico: gestos técnicos, cadeias operatórias e a construção de habilidades na pré-história”, com apresentação de Joana Cabral (IFCH/Unicamp) e mediação e tradução de Chantal Medaets (FE/Unicamp).  

A jornada foi uma realização do Coletivo em Antropologia, Ambiente e Biotecnodiversidade da USP (CHAMA), do Laboratório de Antropologia de Ciência e da Técnica da UnB (LACT) e do Consulado Francês em São Paulo. Além do LISA, o evento foi apoiado pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP), pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP (PPGAS-USP) e pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Unicamp (PPGAS-Unicamp).  

Para consultar a programação do evento, acesse o site do LISA: https://lisa.fflch.usp.br/node/13058. As gravações das sessões da jornada estão disponíveis no canal do CHAMA: https://www.youtube.com/@Chama-USP. Para saber sobre o ensaio “As técnicas do corpo”, visite a Enciclopédia de Antropologia da USP através do link: https://ea.fflch.usp.br/obra/tecnicas-do-corpo.