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A Folha de S.Paulo destacou a exposição "Trajetórias Cruzadas", que reúne, pela primeira vez, os registros das fotógrafas Maureen Bisilliat, Claudia Andujar e Lux Vidal sobre os povos indígenas brasileiros.
Essas três estrangeiras chegaram ao Brasil nos anos 1950 e, em plena ditadura, dedicaram suas lentes e pesquisas a retratar culturas indígenas ignoradas pelo governo. Bisilliat, que fotografou o Xingu a convite de indigenistas, resume sua abordagem: “Meu talento era entrar sem perturbar e ser aceita. Se fui boa na fotografia, é porque soube entrar no novo sem ser percebida”.
Já na matéria da BBC o destaque é para Claudia Andujar, a matéria cita tanto a exposição “Trajetórias Cruzadas”, quanto a “Claudia Andujar - Minha vida em dois mundos”, exposta na Pinacoteca de São Paulo.
"São poliglotas, nunca perderam o sotaque, mas não possuem exatamente uma língua materna. Elas vivenciam a Segunda Guerra Mundial, e então se mudam para os Estados Unidos."
A exposição “Trajetórias Cruzadas” acontece no Centro MariAntonia, em São Paulo, até 23/02, com entrada gratuita.
Leia as matérias completas na Folha de S.Paulo e BBC.
Fotografar e ver – oficina de fotografia.
Objetivo da oficina: Apresentar tecnicamente os princípios para operar manualmente uma câmera fotográfica (abertura do diafragma, velocidade do obturador, ISO); fazer exercícios operando a câmera e exercícios de composição da fotografia; visitar a exposição “Trajetórias cruzadas: Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat” no Centro MariAntonia da USP; realizar discussões sobre as relações entre fotografia e antropologia visual.
Solicitamos às pessoas inscritas que levem câmeras fotográficas, caso possuam.
Público-alvo: Estudantes de graduação e pós-graduação;
Pré-requisito: Não é preciso experiência prévia com fotografia.
Informações/Contato: lisaonline.fflch@usp.br
Número de vagas: 12
Ministrantes: Pesquisadores do LISA e do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI – USP) vinculados ao Departamento de Antropologia da USP
- Laila Kontic é mestra em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI – USP). Email: lzkontic@gmail.com
- Kelly Koide é doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), com estágio na Université Lyon I. É pós-doutoranda no Departamento de Antropologia da USP, onde realiza pesquisas sobre a trajetória e a obra de Claudia Andujar e Maureen Bisilliat. Pesquisadora do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI – USP). Email: kelly.koide@yahoo.com.br
- Kelwin Marques é mestrando em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI – USP). Email: kelwin.santos@usp.br
Modalidade: Presencial
Local da oficina: Auditório do LISA-USP localizado na Rua do Anfiteatro, 181, favo 10, Cidade Universitária, São Paulo.
Valor: Gratuito
Período de inscrição: 15/01 a 29/01
Critério de seleção: Ordem de inscrição
Divulgação dos selecionados: 31/01/2025 (sexta-feira), no site https://lisa.fflch.usp.br/
Período de realização da oficina: 4, 5, 6 e 7 de fevereiro de 2025.
Horário: 9h30 - 12h30
Carga horária total: 12h
Critério de aprovação: Participação em 75% das aulas.
Certificado: Será entregue aos aprovados no último dia de aula.
O caminho do Alabê – Ritmos dos orixás e a música brasileira”, ministrado por Vitor da Trindade e Elis Trindade
Aconteceu este semestre a segunda edição do curso de cultura e extensão universitária intitulado O caminho do Alabê – Ritmos dos orixás e a música brasileira, promovido e realizado no Laboratório de Som e Imagem em Antropologia (LISA) e no Teatro Popular Solano Trindade (TPST), com apoio do Departamento de Antropologia da USP. O curso foi coordenado por Rose Satiko Gitirana Hikiji, professora do Departamento de Antropologia da USP (DA-USP) e coordenadora do LISA, e ministrado por Vitor Israel Trindade de Souza, músico, mestre em etnomusicologia pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, presidente e diretor artístico do Teatro Popular Solano Trindade, e por Elis Sibere dos Santos Monte Trindade de Souza, professora de dança afro-brasileira, coreógrafa e coordenadora cultural do Teatro Popular Solano Trindade.
As atividades aconteceram entre os dias 12/09 e 14/11 de forma presencial e se basearam no método Raquel Trindade, que nasce com os ancestrais da Família Trindade e une teoria e prática, e a proposta de movimento, sonoridade e bem-estar como epistemologia. O curso abordou os ritmos dos orixás, danças e manifestações, assim como a influência desses elementos na musicalidade brasileira, com alusão a instrumentistas e sacerdotes dos orixás.
Ogans e a Musicalidade
Vítor e Elis abordaram as funções do ogan, da instrumentação, da sonoridade e danças nos rituais, festas e cerimônias. As comunicações pautaram-se, especialmente, no papel da música e dos toques no culto aos orixás, a sua importância, particularidades e complexidades ao redor das diferentes sonorizações, formas de tocar e ocasiões. Entre os papéis destacados, está o do ogan alabê, que dá nome ao curso e também ao livro Oganilu, O caminho do Alabê e O Ogan Alabê, Sacerdote e Músico, de autoria de Vitor da Trindade. O Ogan alabê é o responsável pela manutenção e conservação dos instrumentos sagrados, assim como por tocar em momentos de rituais e festas.
Como Ogan Alabê Omoloyê do Ilê Axé Jagun, com o auxílio de Elis, Vítor demonstrou alguns toques dos orixás, sua sonoridade, particularidades e formas representativas de danças. Além de destacar a singularidade do atabaque nas cerimônias, pois é ele quem dá o curso e ritmo ao culto, deve ser tocado apenas por pessoas especializadas e ser cuidado e preparado para cada tipo de evento.
A iniciativa corrobora para a difusão de saberes ancestrais e de matriz africana, institucionalizados pela Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da "História e Cultura Afro-Brasileira" no ensino fundamental e médio.
Para mais informações sobre as atividades, acesse o site: https://sce.fflch.usp.br/node/5676. Para conhecer mais sobre o Teatro Popular Solano Trindade, visite as redes sociais do teatro pelo link: TPST.
Tese premiada acompanha o cinema dos povos indígenas Manoki e Myky
Antropólogo que oferece oficinas audiovisuais em aldeias no Mato Grosso analisou filmes sobre temas como jogos e rituais tradicionais e as relações entre humanos e não humanos
Por meio da linguagem audiovisual, os povos indígenas Manoki e Myky encontraram uma forma de compartilhar suas práticas e histórias. O engajamento dos jovens com o audiovisual levou à reativação de tradições desses povos, que vivem no Mato Grosso, à criação de um coletivo de cinema e à produção de alguns filmes premiados. Foi a partir do contato e relação do pesquisador André Lopes com esse processo que nasceu a tese de doutorado Ijã Mytyli: Os Manoki e os Mỹky em seus novos caminhos-histórias audiovisuais, vencedora do Prêmio Tese Destaque USP 2024 na categoria Inovação.
Formado em Ciências Sociais, André Lopes trabalha desde 2008 com os Manoki no estado do Mato Grosso e, desde 2009, auxilia no processo de filmagem e produção de filmes, oferecendo oficinas audiovisuais. O primeiro documentário, O Batizado dos Meninos Manoki, foi produzido em 2009. O filme apresenta o ritual de iniciação dos jovens à vida adulta, que não era feito há 14 anos.
“A possibilidade de gravar essa cerimônia foi um dos fatores que contribuíram para a reativação dela. Esse foi o primeiro trabalho e depois a gente continuou fazendo vídeos. O mestrado e doutorado foram formas de continuar a relação de colaboração e parceria com essas pessoas nas aldeias”, conta Lopes.
De acordo com o antropólogo, o seu doutorado é uma ampliação de seu mestrado, que também consistiu no trabalho de pesquisa e produção audiovisual, porém restrito aos indígenas Manoki. Após uma visita à aldeia Myky, ele decidiu expandir sua pesquisa e oferecer as oficinas para essa comunidade. Sob orientação do professor Renato Sztutman, o pesquisador defendeu sua tese de doutorado em Antropologia Social na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em 2023.
Protagonismo indígena
O pesquisador explica a importância do uso de ferramentas pelos povos indígenas para que eles criem o próprio cinema. “A ideia é que eles se apropriem dessas ferramentas audiovisuais para que eles continuem sendo protagonistas das suas próprias histórias. Para que eles mesmos contem as histórias de seus povos. Até então, a experiência que eles tinham era de pessoas de fora que iam e falavam sobre eles ou os gravavam, levavam embora e não retornavam à comunidade. Eles não tinham muito controle de como esse material era exibido e distribuído”, conta Lopes.
Durante a pesquisa, os jovens dessas comunidades criaram, junto com o antropólogo, o Coletivo Ijã Mytyli de Cinema Manoki e Mỹky para que pudessem dar continuidade às produções. “A criação de um coletivo de cinema indígena foi uma proposta que a gente criou juntos. A gente reuniu os jovens desses dois povos para dar uma sinergia maior a essas produções e conseguimos, ao longo dos anos, financiamento para que essas comunidades também tivessem equipamento. Então, hoje as três maiores comunidades têm câmeras profissionais, microfone e tripé, eles estão bem equipados para continuar a fazer essas atividades audiovisuais”, explica o pesquisador.
A pesquisa de doutorado de Lopes se concentrou em estudar os temas que foram retratados nos filmes feitos pelos indígenas. O antropólogo definiu as abordagens em parceria com os moradores das aldeias. “Os indígenas escolhiam o que eles iam filmar. À medida que eles foram escolhendo os assuntos da pesquisa, a gente foi aprofundando os temas antropologicamente. Então, a escolha dos temas da tese foi feita em parceria com esses jovens”, diz.
Narrativas audiovisuais
Com apoio do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (Lisa) da USP, Lopes produziu três longas-metragens e cinco curtas-metragens dirigidos por indígenas, que fazem parte de sua pesquisa. O objetivo foi compreender os usos das imagens audiovisuais e os significados das apropriações dessa linguagem pelos povos indígenas. Para isso, ele usa o conceito de cosmopolítica, que se refere aos vínculos entre seres humanos e não humanos em uma concepção de mundo que não divide cultura e natureza como universos separados.
“A circulação de imagens e sons entre povos indígenas opera mediações interétnicas, entre indígenas e não indígenas, ou mediações intergeracionais, entre diferentes grupos dentro de uma mesma sociedade. Mas, muitas vezes, os filmes indígenas trazem não só os humanos que habitam esse plano, mas seres que habitam outros mundos ontologicamente diferentes e com os quais eles devem ter uma diplomacia cosmopolítica”, pontua.
Segundo o pesquisador, o uso do vídeo pelos povos indígenas funciona como uma mediação cosmopolítica amplificada. “O cinema indígena opera uma mediação cosmopolítica amplificada porque eles também querem passar essas mensagens que vêm desses mundos espirituais múltiplos. Eles querem passar essa mensagem para os não indígenas, que desconhecem a existência desses seres”, complementa Lopes.
Entre os filmes que entraram na pesquisa, dois retratam os jogos de bola de cabeça dos Manoki e Myky, um tipo de futebol jogado exclusivamente por homens, em que apenas a cabeça pode encostar na bola. O filme Ãjãí: o jogo de cabeça dos Myky e Manoki apresenta essa prática e os preparativos para o jogo e foi ganhador do prêmio de melhor documentário longa-metragem no Cine Kurumin.
Nesse jogo, os participantes devem atingir o campo do time adversário sem que eles consigam rebater a jogada. Para obter o ponto, os times devem fazer três jogadas sucessivas vitoriosas. As competições podem durar até três dias, já que as disputas só terminam quando todas as apostas, prêmios disputados, são ganhas. Os prêmios são variados, como bens, sementes e elementos de cultivo. Apesar de não participarem em campo, as mulheres têm um papel central nos jogos porque preparam as apostas e a alimentação para os dias de festa.
As outras produções que compõem a pesquisa são Os espíritos só entendem o nosso idioma, Tecendo nossos caminhos, Piny Pyta: a força de nossas medicinas, Pinjawuli: o veneno me alcançou e Jãkany Ãkakjey: nossos alimentos. As duas primeiras mostram a resistência do povo Manoki e a esperança de voltarem a falar a sua língua indígena, pois atualmente apenas seis anciões da comunidade ainda falam o idioma, que é uma forma de se comunicarem com os espíritos. O terceiro filme apresenta os meios de resistência dos indígenas durante a pandemia. Já Pinjawuli é baseado em um sonho do próprio diretor, Bih Kezo, e faz uma crítica à contaminação das lavouras pelo uso de agrotóxicos. Jãkany Ãkakjey discute a relação entre vivos e mortos e os preparativos na roça comunitária para a realização do ritual sagrado Yetá.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP em 21/11/2024, às 18:48. Leia o original aqui.