Autoria: Maykon Cruz Almeida • Bolsista de Jornalismo Científico do LISA
Arte/Divulgação: Carlos Eduardo Conceição • Bolsista de Divulgação Científico do LISA
Revisões: Guilherme Moura Fagundes • Vice-Coordenador do LISA | Vanessa Munhoz • Comunicação do LISA
Publicação: 21/10/2024
Nos dias 03, 04 e 07 de outubro de 2024, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) receberam a “Jornada Internacional de Estudos - As técnicas do corpo: 90 anos do ensaio de Marcel Mauss”.
Coordenado e organizado por Guilherme Moura Fagundes, docente do Departamento de Antropologia da USP (DA) e vice-coordenador do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP (LISA), e por Rafael Antunes Almeida, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), o evento demarcou os 90 anos do ensaio "As técnicas do corpo", do antropólogo francês Marcel Mauss, e o lançamento do Coletivo de Antropologia, Ambiente e Biotecnodiversidade (CHAMA), grupo de estudos do Departamento de Antropologia da USP liderado pelo professor Guilherme Moura Fagundes.
A jornada contou com a participação de três dos maiores especialistas na vertente "tecnológica" da obra de Mauss - isto é, voltada, literalmente, ao estudo da técnica - , a saber: Perig Pitrou, pesquisador do CNRS e diretor do centro de pesquisas Maison Française d'Oxford; Carlos Sautchuk, coordenador do Laboratório de Antropologia da Ciência e da Técnica da Universidade de Brasília (LACT/UnB); e Nathan Schlanger, da École Nationale des Chartes (ENC, Paris).
As comunicações buscaram comparar a recepção e os efeitos do ensaio de Mauss para a consolidação da antropologia da técnica no Brasil e na França. Esse campo de estudos tem se dedicado a compreender o fenômeno técnico desde uma perspectiva simétrica, superando a dicotomia entre sociedades modernas e tradicionais, bem como abarcando as interações entre humanos e não-humanos nas atividades de feitura da vida. Tudo isso ganha centralidade na nossa atual crise ecológica, quando as ações humanas sobre o planeta são, por vezes, reduzidas às ideias de "destruição da natureza" e "controle dos viventes", obliterando a continuidade paleontológica entre os fenômenos técnicos e vitais.
O auditório do LISA sediou a primeira mesa da jornada, intitulada Vida e movimento: impactos e perspectivas das técnicas do corpo entre o Brasil e a França, com abertura do professor Guilherme Moura Fagundes, mediação de Rafael Almeida e exposições de Carlos Sautchuk e Perig Pitrou. O objetivo da mesa foi demonstrar como o ensaio de Marcel Mauss condensa diferentes inflexões que seu pensamento realiza, sobretudo acerca da materialidade e da dimensão vital na configuração da vida social, lançando um programa de pesquisas que se atualiza nas críticas contemporâneas à oposição entre natureza e cultura.
Além da mesa de abertura, a jornada contou com três conferências proferidas pelo professor Nathan Schlanger. A primeira, intitulada “Técnicas do corpo e corpos técnicos – Marcel Mauss sobre a indústria e o artesanato” — proferida em francês, com tradução simultânea —, foi mediada pelo professor Guilherme Moura Fagundes e se baseou em materiais de arquivos de Marcel Mauss para nos fornecer detalhes intelectuais e institucionais acerca do contexto de emergência do pensamento maussiano sobre a técnica. A segunda conferência, realizada em inglês, intitulada “André Leroi-Gourhan from material civilisations to technical behaviour”, foi mediada por Eduardo Neves (MAE/USP) e se concentrou no último livro de Nathan Schlanger sobre o etnólogo e arqueólogo André Leroi-Gourhan (1911-1986), aluno de Marcel Mauss e contemporâneo de Claude Lévi-Strauss no Collège de France. Por fim, a última conferência tratou do tema “Aprender no paleolítico: gestos técnicos, cadeias operatórias e a construção de habilidades na pré-história”, com apresentação de Joana Cabral (IFCH/Unicamp) e mediação e tradução de Chantal Medaets (FE/Unicamp).
A jornada foi uma realização do Coletivo em Antropologia, Ambiente e Biotecnodiversidade da USP (CHAMA), do Laboratório de Antropologia de Ciência e da Técnica da UnB (LACT) e do Consulado Francês em São Paulo. Além do LISA, o evento foi apoiado pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP), pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP (PPGAS-USP) e pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Unicamp (PPGAS-Unicamp).
Para consultar a programação do evento, acesse o site do LISA: https://lisa.fflch.usp.br/node/13058. As gravações das sessões da jornada estão disponíveis no canal do CHAMA: https://www.youtube.com/@Chama-USP. Para saber sobre o ensaio “As técnicas do corpo”, visite a Enciclopédia de Antropologia da USP através do link: https://ea.fflch.usp.br/obra/tecnicas-do-corpo.