MK-MAKU-0003
Para mais informações, acesse: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Hupda
Em determinadas épocas do ano os diversos grupos descentralizados Maxakali, se encontram para prestar homenagens aos espíritos e realizar a iniciação das crianças. Uma série de festividades entra em curso envolvendo toda a sociedade Maxakali: homens, mulheres e crianças, cada qual com atividades específicas. Os rituais de celebração dos ancestrais articula toda sua mitologia, que prescreve ações e condutas, para garantir a eficácia e agência do ritual. O principal ritual do calendário Maxakali é a iniciação das crianças, no qual as mulheres oferecem seus filhos mortos aos espíritos. As crianças são figuras centrais na cosmologia Maxakali, são guardiões da língua e dos costumes. Outro povo indígena apresentado são os Krenak, que com a retomada de suas terras, têm o interesse de recriar e transformar suas práticas rituais, as mulheres têm uma forte posição política no grupo, além de serem as guardiãs da língua Borun e a ensinarem nas escolas da comunidade.
Os festejos do término da reclusão de meninas Juruna, pela primeira vez documentados – O povo Juruna vive no Parque Xingu (MT), a maior parte na aldeia Tubatuba. Juruna significa "boca-preta", nome em nheengatu, referente à antiga tatuagem preta perene que muitos Juruna apresentavam no rosto. Sua autodenominação é Yudjá, que quer dizer “dono do rio“. Este documento sobre a festa Sãluahã, festa de tirar da reclusão, é algo inédito. Não só por trata-se da primeira vez que é filmado, como ainda por ser o auge da retomada de um antigo costume dos Juruna, que havia sido abandonado.
Segundo anotação de Margot Dias na lata do filme: “ng’oma em Kunalupapa em 20 de setembro de 58, sábado da saída. Tambalika, domingo da saída, dia 7 de setembro de 58” (CAC).
“Estas provas, como saltar a fogueira, correr entre uma fila de mulheres com paus de mandioca que tentam bater, é um gáudio. Esta tarde [de sábado] foi um misto de ritual sagrado e também divertido. Sem os homens, elas podiam fazer tudo” (MD).
“(...) a nalombo pega na cabeça rapada de cada mwali com ambas as mãos e obriga-a a manter uma determinada posição. A seguir, molha o dedo médio no óleo e deixa pingar algumas gotas no meio da testa, de maneira que o óleo escorra pela testa e pela cana no nariz e vá pingar na terra. Todas as mulheres seguem esta operação com grande ansiedade e atenção sem soltarem uma palavra. Atribuem algum significado à maneira como óleo escorre pelo rosto abaixo, considerando mau sinal se ele não seguir o caminho prescrito” (MM III: 238).
Sábado: iniciandos plantam árvores; sacrifício de um bonde. Grupo grande de rapazes corre com árvores na mão, vê-se depois um plano de dança dos rapazes já com as pinturas. Domingo: corte de cabelo das mães e dos iniciandos; dança dos nalombos e habilidades acrobáticas. Aqui, os personagens que dançam olham, brincam e interpelam diretamente a câmara (CAC).
“Isto é muito interessante, eles vão buscar as árvores, chegam os miúdos com as árvores e depois nesse recinto, onde vão estar as mães, têm que as plantar. Plantar é muito sagrado, um rapaz tem uma árvore, o nalombo põe remédio e o rapaz tem que deitar a terra com o cotovelo. Depois da plantação dançam. Os nalombos arrastam a terra de cócoras, marcando o lugar, plantam, depois sacrificam um cabrão. (...) É difícil filmar esse tipo de situações, não se vê bem mas não se pode interferir nos acontecimentos” (MD).
“Um tiro de pólvora seca atroa os ares. O apogeu dos grandes rituais começou. O nalombo principal, com a cabacinha pintada na mão, executa uma espécie de dança ritual em frente aos tambores. Nos seus olhos arregalados há uma fixidez estranha, enquanto a boca se rasga num ricto sinistro, a que os dentes incisivos afilados dão um ar quase demoníaco” (MM III: 180).
Preparação dos nalombos e dos iniciandos. Entramos e coltamos a sair de uma casa. No pátio interior, os rapazes são pintados com pintas brancas pelo corpo. Parte muito escura em que se vê o corte de cabelo e um grupo de homens começa a dançar. Vão-se juntando pessoas, começa a música. Um grupo de mulheres chega a cantar (ronda), vemos o círculo de dentro mas também de fora. Movimentos rápidos da câmara, na grande confusão que se vive nesse momento. Tiros no ar com pólvora. Grande grupo que corre. Rapazinhos tem a cara tapada. A parte da circuncisão é muito escura, no final veem-se rapazinhos sentados no chão. Rapazes à porta da casa do mato. Dançam e brincam uns com os outros, rindo. (Filmado em 31 de agosto de 1958. As sequências de circuncisão e da “casa dos rapazes” foram filmadas por Viegas Guerreiro) (CAC). “Aqui são os nalombo, uma espécie de sacerdote-curandeiro, a ir para a praça da aldeia a dançar, vão com este passo, a tremer as ancas. Os nalombo têm sempre um tambor especial, a música dá os sinais para mudar os movimentos. (...) [Os iniciandos] dormem numa casa sem paredes, as noites eram muito frias, por isso eles estão vestidos com uns panos, mas não fui eu que filmei esta parte por ser mulher, não podia estar com eles. As mães estão ali, as amigas e parentes metiam moedas nas mãos das mães, os nalombo entram aqui e fazem este tratamento, recebem o dinheiro, ficam sentados com as mãos assim [faz gesto], para cima. (...) Olha eles aqui em frente à casa [dos rapazes/’escola do mato’], depois vão lá os padrinhos, ensina armadilhas, tudo o que precisam de saber na vidam adulta, aprendem a lidar com as mulheres, aprendem a dança do mapiko, mas não sabemos muito bem o que é esta preparação, eles falavam disto em segredo” (MD). “Entretanto escurece profundamente; chegou o momento de serem submetidos a nova prova de coragem, a última do likumbi: ouve-se subitamente o rugido do leão muito perto, na espessura do mato. Os rapazes, apavorados, são obrigados a avançar na direção do rugido, até tocarem com a mão na fera. Vêem então que é um homem que imita o rugido com axímia perfeição” (MM III: 208).
Dança do mapiko, com máscaras, retiradas de diversos lugarese situações: Kuntamulungu, Chimanyile (Tambalika), Yangua, Nantimbu (CAC). “Isto são coisas que se apanhou e depois [na montagem] juntamos tudo porque o assunto era o mapiko. Aqui, o administrador mandou-os estar ao sol, vê-se melhor a maneira como dançam, mas foi feito [encenado], viram-se para trás; quando fica escuro é porque as nuvens mudam de um momento para o outro. (...) Eu não queria interferir, não queria interromper. O Antonio [Jorge Dias] tinha um bocado mais de força, fazia mais impressão sendo homem, não é? (...) Uma coisa que aconteceu [em Nantimbu]: eles têm um pedido de chuva, uma canção, mas não queriam cantar isto sem ser verdade, e não era a altura certa, mas em setembro fomos a uma aldeia e eles disseram que sim, mas não estava ninguém quando chegamos. Encontramos as pessoas num caminho e eles foram cantando enquanto andavam. E de tarde choveu. Isso foi fantástico, ninguém esperava chuva em setembro” (MD). “Em quase todas as festas importantes das cerimônias de iniciação aparece o bailarino mascarado, o mapiko, que acabou por se tornar uma espécie de símbolo da força mística que permitiu ao homem encontrar o equilíbrio então perdido e que ambicionava recuperar. Ele é assim, de fato, o elemento-chave dos mistérios, e é à volta das máscaras e danças do mapiko, que gira todo o segredo dos homens” (MM III: 163-164).